domingo, 19 de janeiro de 2020

Larguei dela e deixei tudo pra ela


"Larguei dela e deixei tudo pra ela"
Geonaldes Elhemberg (Pepeta do Cordel)



A minha vida de casado
Foi inté interessante,
O amor era dos grande
Do tamanho de um gigante.
Dispois de tudo que eu fiz,
A danada num me quis,
Deu um grande passo errante.

Dispois de tanto tempo
De uma forte união,
Aconteceu comigo
A tal da separação.
Como gosto muito dela,
Eu deixei tudo pra ela,
Sem raiva e contestação.

Tomou tudo que eu tinha
O que juntamos com o tempo,
De repente se foi tudo
Como em um forte vento.
Numa ação atrevida,
Devastou a minha vida,
Levando até o jumento.

Mas, eu não fiz questão
Pra ela, tudo deixei,
Pelo tempo convivido
Não botei azar no mei.
Deixei a jumenta mansa,
Milho pra encher a pança,
Os cassuá e os arrei.

Deixei inté a cangaia
O meu cabresto novim,
A espingarda bate bucha
Que só dei uns dois tirim.
Um pote largo e fundo,
E duas onças de chumbo,
Ficou tudo no quartim.

Dois pote, também ficaram
Os caneco de alumim,
O belo ferro de brasa
Comprado em seu Quinim.
Ficou meu pá de espora,
Dois cambito e a rabichola,
Eu larguei mão de tudim.

Um tubo, cuia de oito
A fava e o feijão,
Uma quarta de farinha
Um corredor pro pirão.
Ficou quatro candeeiro,
Um galo bom no terreiro,
E o meu velho pilão.

Minha foice e as enxada
Um machado afiado,
O meu facão maranhense
Bom de corte, amolado.
Meu alforje de queixada,
O isqueiro sete lapada,
Tudo eu larguei de lado.

Duas cadeira de balanço
Coberta de macarrão,
Os seis copo de alumim
Que ganhei de sei Tião.
Lá ficou minha bileira,
Do lado da cristaleira,
E da gaiola do cancão.

Os prato, disso nem falo
De plástico e salilóia,
Minha aguardente alemã
Que cura até jiboia.
Deixei a rede pra trás,
O cachorro capataz,
E oito gato na moía.

Tu sabe o trabai que dá
Pra construir a moradia,
Trabaio de sol a sol
Pra mais de 80 dia.
Só de paia foi duzentas,
Suei inté o pau da venta,
E dispois, a covardia.

Agora, me encontro só
De tudo, mão eu larguei,
Pro amor de minha vida
Juro, tudo eu deixei.
E se um dia ela chamar,
Pedir para eu voltar,
A resposta, eu terei.

Num sô de contar misera
Eu sô mei opinioso,
Se larguei, eu deixo tudo
Eu num brigo por um ovo.
Também, num faço questão,
Num dô uma opinião,
Na vida dela e do povo.

Depois de tudo passado
Dessa grande humilhação,
De perder tudo que tinha
Com a tal separação.
Va ficando por aí,
Que eu fico por aqui,
Pra você, torno mais não.

Agora vai um consei
Procê que qué se casá,
Estude bem a danada
Taque o pau a preguntá.
Conheça bem a menina,
Pra num ficá na esquina,
Oiano o tempo passá.

Araripina, 04 de janeiro de 2020